Hoje era um
dia muito importante para mim. Finalmente deixara de ser uma estudante, e
passara daqui em diante a ter a minha independência e a minha própria
identidade. Não posso dizer, nem estou a dizer, que tinha sido infeliz até
então, mas poder sair da casa dos meus pais era sem dúvida bastante
gratificante. Desde muito nova que sonhava ter a minha casa, só para mim, não
tinha de ser grande, sonhava apenas ter um mundo só meu em que pudesse fazer o
que me apetecesse. O que quero dizer é mais o menos que, se quiser comer como,
se não quiser, paciência, ficava para mais tarde, ou não. Normalmente a minha
mãe chateava-se comigo por não comer a quantidade de comida que ela gostaria
que eu comesse, e se um dia ela ouvisse isto… seria muito trágico para mim. No
entanto também a entendo, de certeza que vou ser igual ou pior com os meus
filhos.
A preocupação da minha mãe não era só por
comer pouco, ela sabia o que eu tinha passado na minha adolescência. Eu nunca
fora propriamente magra, desde muito pequena que era gordinha, e conforme fui
crescendo, fui fazendo algumas dietas malucas para ficar magra. Cheguei a
deixar de comer, ou a passar o dia inteiro a beber água, tentando enganar o estômago que se queixava de fome. Hoje sei que o que fiz não está certo, mas na
altura não me importava, todas as minhas amigas tinham namorados e rapazes
interessados nelas, mas eu não, sempre fiquei de lado a ver a perfeita vida
delas. A muito custo hoje sou feliz com o meu corpo, mas mesmo assim, não tenho
muita autoconfiança, muitas vezes não sou capaz de usar uma peça de roupa mais
justa, algo que deixe ver muito as formas do corpo.
Como eu comecei por dizer, hoje é o meu
primeiro dia de trabalho. Quando acabei o meu curso de secretariado-administrativo,
uma das minhas professoras disse-me para mandar o meu currículo para uma empresa e
assim fiz o que ela me disse. “Goldenverse
Enterprise”, é uma das maiores empresas de marketing, e para ser sincera
nunca pensei sequer por um segundo que me fossem chamar para uma entrevista, muito
menos que ficasse selecionada para o emprego. O que sei até agora é que são
muito exigentes, pois a minha entrevista demorou uma eternidade, e só faltou
pedirem-me o meu cadastro criminal, como se eu tivesse algum, por vezes acho
mesmo que eu sou demasiado certa para arriscar sequer a atravessar a passadeira
com o sinal vermelho para os peões.
Quando acordei, sentia-me nervosa, ou talvez
ansiosa para começar o meu dia. Tenho a impressão que até sonhei com isso hoje,
decidi ligar à Pamela, ela era mais velha e já trabalhava há algum tempo, sabia
que me ia ajudar como sempre ajudava, não fosse ela a minha melhor amiga.
Peguei no telefone e assim fiz.
-“Estou Pam, ajudas-me? O que devo vestir?
Estou farta de olhar para a minha roupa e não consigo decidir o que vou vestir,
não quero parecer mal, mas também não quero ir a parecer a dona daquilo…sei lá…
ajuda-me please”, já quase não tinha ar por causa da rapidez com que estava
a falar.
-“Ei Mel, calma. E bom dia também para ti…”disse
ela, um pouco aborrecida pareceu-me, ou preocupada comigo talvez.
-“Desculpa bom dia, mas acho que já estou a entrar em
pânico e ainda nem meti os pés lá, sabes como é…”, disse eu quase como um
pedido de desculpa.
-“Sabes bem que não precisas de estar assim,
vai correr tudo bem, tu és inteligentíssima, e sabes bem tudo o que vais fazer
no teu novo trabalho, afinal foi isso que estudaste até hoje”, tentou
acalmar-me.
-“Não é disso que eu tenho medo. Queria era
que me dissesses o que devo vestir, sei lá, umas calças de ganga com certeza não
é o melhor look para o primeiro dia de trabalho”.
-“Olha eu acho que devias optar por uma coisa
profissional, vestes uma camisa branca e vestes umas calças clássicas. Ficas
perfeita e não precisas de entrar em pânico como estás neste momento”,
continuou a tentar acalmar-me.
Ela sem dúvida
conseguia sempre acalmar-me, fosse qual fosse a minha emergência.
-“Sabes que eu te adoro não sabes? Vou
já preparar-me, quero chegar cedo, pelo menos para me ambientar com o meu novo
local de trabalho”,
disse eu entusiasmada.
-“Claro que sei, vai arranjar te então miúda,
manda-me uma foto depois de terminares, quero ver como vai a minha miúda
preferida, beijos adoro-te”, e despediu-se.
Antes de
desligarmos eu disse:
-“Não vais mesmo ficar à espera que te mande
uma foto pois não?”, dela podia esperar tudo.
-“É claro que sim, e se não mandares não te
pago o almoço hoje quando formos almoçar, isto se não encontrares alguém que se
interesse por ti e…”, o seu riso denunciava-a. Ela e a minha mãe insistiam
que eu tinha que arranjar um namorado, às vezes até já me chateava esta
conversa.
-“Sim claro, hoje mesmo vou encontrar a minha
alma gémea, vai sonhando”, acho que ela ainda se riu mais da minha
resposta.
“-Nunca se sabe, nunca ouviste dizer
que o amor pode estar ao virar da esquina?”.
-“Sim, sim, não te preocupes que vou-me
certificar que vejo todas as esquinas do prédio quando lá entrar, adeus até
logo maluca”.
E assim nos
despedimos.
Após uma meia hora a experimentar roupa,
finalmente eu estava pronta. Olhei me ao espelho da minha casa de banho, e confesso
que fiquei um pouco espantada. Estava de facto com um ar muito profissional. Fiz
o que a Pam me disse, vesti umas calças pretas e uma camisa branca por dentro
das calças, depois pintei levemente os olhos com uma sombra, passei um lápis e
uma máscara de pestanas. Deixei o meu cabelo solto, ele era liso e não
precisava de grande coisa, para minha alegria, era uma das poucas coisas que
sempre gostara em mim.
Como era o primeiro dia decidi ir no meu
carro, tinha medo que o trânsito da cidade me fosse atrasar e os transportes
público não eram a melhor alternativa, porque não há nada pior do que chegar
atrasada ao primeiro dia de trabalho. Felizmente tudo correu bem e eu cheguei
cedo, se calhar até cedo demais.
O estacionamento era enorme, a primeira coisa
que me veio à cabeça foi “eu não vou
saber onde deixei o carro quando for para ir embora”, já nos parques
pequenos era assim, quanto mais num deste tamanho. Tentei memorizar o meu
lugar, então memorizei umas bonitas flores que decoravam a berma do passeio que
dava acesso ao edifício. E assim fiz.
O caminho foi razoavelmente fácil, pois eu
não costumava andar de saltos, mas tinha que ser, hoje tinha de causar uma boa
impressão.
Quando entrei no edifício fiquei extasiada,
era tão moderno, e a decoração tinha de ter sido feita por um profissional,
tudo combinava, desde da cor dos sofás da sala de espera até aos jarros que
decoravam a receção. Não estava lá ninguém apenas a rececionista, mas era
normal, ainda faltava meia hora para as nove.
Fui ter com
ela.
-“Bom dia, desculpe incomodar, mas hoje é o
meu primeiro diz de trabalho e ainda não sei qual é o piso do meu departamento”,
dei o meu melhor sorriso, para tentar esconder o meu nervosismo.
Ela era
bastante bonita, os olhos azuis chamavam a atenção de qualquer pessoa.
-“Bom dia, bem-vinda à “Goldenverse”, e
bem-vinda também à nossa equipa.”, disse ela sorrindo, “tenho todo o gosto em
ajudar, pode-me dizer por favor só qual é o seu nome para eu poder verificar no
nosso sistema?”.
-“Claro, desculpe, chamo-me Melissa Adams”,
continuei a sorrir.
Ela tinha de
facto todo o perfil para estar naquele lugar. Era bonita e simpática, qualquer
pessoa se sentiria bem em falar com ela.
-“Dê-me por favor 1 minuto só para procurar o
seu nome no nosso sistema”.
Ela procurou
lá no computador, que só se sabia da sua existência porque ela estava a
escrever no teclado, pois todo o móvel cobria o ecrã, logo era impossível ver o
que ela fazia.
-“Obrigada menina Melissa por aguardar, de
facto este é o seu primeiro dia de trabalho, e irá para o departamento
executivo, fica no 10º andar. Irá trabalhar com a Dra. Samantha Archetti.”,
informou-me ela.
Não sei o porque, mas o nome dela não me
cativou muito, fiquei com a impressão que não iríamos ser as melhores amigas.
-“Obrigada menina…”, disse eu num tom
inacabado para que ela me dissesse o seu nome.
-“Rachel, sem menina, tenho a certeza que
somos quase da mesma idade, e já que vamos trabalhar na mesma empresa não há
razão para estarmos com formalismos”, pediu-me Rachel.
Fiquei
agradecida por alguém pôr fim ao meu nervosismo, sabia bem ser bem tratada por
alguém num sítio onde não conhecemos ninguém, principalmente é sempre bom ter
amigos no trabalho.
-“Claro, obrigada por me ajudares, vemo-nos
por ai?”, perguntei continuando a nossa primeira conversa.
-“Claro que sim, quanto mais não seja quando
saíres às seis. É que trabalhar com os chefes não é propriamente um trabalho
que passes muitas vezes pela receção”, disse ela sorrindo.
Aquela frase
preocupou-me.
-“Trabalhar com os chefes? Como assim com os
chefes? Pensei que o dono era homem não uma mulher.”, disse-lhe eu num tom
preocupado.
-“E é um homem, Dr.Vincent Lee, mas a
Dra.Samantha é o braço direito dele, e o esquerdo também, tudo passa por ela,
entre tu e ele só ela está no meio”.
Se eu estava preocupada, aquilo caiu como
uma bomba na minha consciência. “E agora?
Será que vou estar pronta para isto?”, pensei eu para comigo. “Eu nunca fiz nada parecido na minha vida,
acabei agora os meus estudos e metem-me logo a trabalhar com os chefes?”,
aquilo não podia ser bom.
-“Bem eu não sabia que ia trabalhar com
pessoas tão importantes, só espero não desiludir ninguém por me dar este cargo”,
tentei justificar-me com ela.
-“Tenho a certeza que não, ela é exigente mas
no fundo é boa pessoa, já o Dr. Não é pessoa de grandes falas, é um pouco
reservado. Acho mesmo que as nossas maiores conversas foi mesmo só bom dia tudo bem? E
pouco mais do que isso”, disse Rachel.
-“Se for só isso comigo, tenho a certeza que
não vou ter problemas com ele”, disse tentando parecer calma, o mais que
podia.
-“Vai correr tudo bem Melissa, agora se não te
importas tenho que acabar umas coisas aqui.”
-“Claro, desculpa, vemo-nos logo então, bom trabalho,
muito gosto em conhecer-te”. Disse lhe eu e dirigi-me ao elevador para ir
para o piso dos “leões”.
Mais uma vez, fiquei pasmada. O elevador era
grande, cabiam pelo menos umas dez pessoas lá dentro, todo ele era envidraçado,
e até o chão refletia a minha imagem. Marquei o 10ºpiso e lá fui para o meu
destino. Não entrou ninguém e também não saiu porque eu era a única nele.
Fiquei a olhar-me no espelho, até que a
campainha do elevador tocou. Lá estava eu, no décimo andar, a minha futura
segunda casa, porque depois da conversa com Rachel, tinha a certeza que ia
passar muitas horas ali dentro.
Quando lá cheguei vi a figura de um homem,
não tinha bem a certeza de quem seria. Ele procurava alguma coisa num monte de
papéis em cima de uma das secretárias. Era alto, e pelo que o seu fato deixava
mostrar era também entroncado. Não sei porque, mas naquele momento o meu
coração disparou.
-“Realmente
preciso de alguém organizado e que não deixe tudo amontoado, isto é
inadmissível assim ninguém se entende”, falou ele baixinho, consigo mesmo.
-“Bom
dia”, disse eu um pouco a medo.
Ele virou-se na minha direção
automaticamente. Os seus olhos percorreram me de cima a baixo, e posso dizer
que foi o olhar mais incomodativo que já alguma vez senti na vida. Naquele
momento senti-me despida só com o seu olhar, mas ao mesmo tempo não conseguia
deixar de olhar para ele também. Os seus olhos inquisidores de tom cinzento
prenderam o meu olhar. O seu rosto parecia desenhado por algum daqueles
pintores que pincelaram a basílica de S. Pedro, era perfeito ao mínimo
milímetro. De forma retangular, tudo no seu rosto combinava na perfeição. Fiquei
paralisada a segurar a porta.
-“Bom dia, não sei quem é, mas nunca a vi por
aqui, está perdida?”, perguntou-me ele. Com uma voz rouca e sedutora.
-“Não sei bem, eu marquei o 10º andar no
elevador, mas talvez me tenha perdido por aqui”, disse eu confusa e com a
voz trémula.
-“Hum, você deve ser a nova assistente
da Samantha”, disse
ele num tom ligeiramente divertido.
-“Sim. Penso que sim. Disseram-me isso na
receção”, não podia ter respondido de forma mais confusa.
-“Calma, eu
sou Vincent Lee, muito prazer”, disse me o homem.
Eu devo ter
ficado branca naquele momento, senti que fiquei sem um pingo de sangue no meu
corpo. “Vincent Lee? O Vincent Lee que a
Rachel me disse que era o dono da Goldenverse? E que a maior conversa que teve
com ele foi bom dia tudo bem?”, não sei bem que pergunta me iria sair
primeiro. Senti-me tonta e confusa naquele momento.
....
Continua.
Esta é uma história que comecei a escrever ontem. Não é nada autobiografico, apenas imaginação.
Espero que gostem,digam me o que acharam, é muito importante para mim.
Beijinhos a todas.
A tal história :D eheh logo vi que vinha parar aqui!
ResponderEliminarGostei muito minha madrinha linda ♥
Estou a seguir-te! *mudei de blog*
Beijinhoooooo **
Eu logo vi que a história que falavas no facebook só podia vir parar aqui, eheh :p
ResponderEliminarPorque teve que ser minha linda :\ com muita pena minha! foi melhor assim :) tens que me seguir de novo, eheh
Gostiii bastantee madrinhaa ♥♥
beijinho grandee *
eheh, muito obrigada querida :)
ResponderEliminarnão há melhor que pijamas quentinhos em dias frios ♥♥