quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Sem título



   Hoje era um dia muito importante para mim. Finalmente deixara de ser uma estudante, e passara daqui em diante a ter a minha independência e a minha própria identidade. Não posso dizer, nem estou a dizer, que tinha sido infeliz até então, mas poder sair da casa dos meus pais era sem dúvida bastante gratificante. Desde muito nova que sonhava ter a minha casa, só para mim, não tinha de ser grande, sonhava apenas ter um mundo só meu em que pudesse fazer o que me apetecesse. O que quero dizer é mais o menos que, se quiser comer como, se não quiser, paciência, ficava para mais tarde, ou não. Normalmente a minha mãe chateava-se comigo por não comer a quantidade de comida que ela gostaria que eu comesse, e se um dia ela ouvisse isto… seria muito trágico para mim. No entanto também a entendo, de certeza que vou ser igual ou pior com os meus filhos.
   A preocupação da minha mãe não era só por comer pouco, ela sabia o que eu tinha passado na minha adolescência. Eu nunca fora propriamente magra, desde muito pequena que era gordinha, e conforme fui crescendo, fui fazendo algumas dietas malucas para ficar magra. Cheguei a deixar de comer, ou a passar o dia inteiro a beber água, tentando enganar o estômago que se queixava de fome. Hoje sei que o que fiz não está certo, mas na altura não me importava, todas as minhas amigas tinham namorados e rapazes interessados nelas, mas eu não, sempre fiquei de lado a ver a perfeita vida delas. A muito custo hoje sou feliz com o meu corpo, mas mesmo assim, não tenho muita autoconfiança, muitas vezes não sou capaz de usar uma peça de roupa mais justa, algo que deixe ver muito as formas do corpo.
  Como eu comecei por dizer, hoje é o meu primeiro dia de trabalho. Quando acabei o meu curso de secretariado-administrativo, uma das minhas professoras disse-me para mandar o meu currículo para uma empresa e assim fiz o que ela me disse. “Goldenverse Enterprise”, é uma das maiores empresas de marketing, e para ser sincera nunca pensei sequer por um segundo que me fossem chamar para uma entrevista, muito menos que ficasse selecionada para o emprego. O que sei até agora é que são muito exigentes, pois a minha entrevista demorou uma eternidade, e só faltou pedirem-me o meu cadastro criminal, como se eu tivesse algum, por vezes acho mesmo que eu sou demasiado certa para arriscar sequer a atravessar a passadeira com o sinal vermelho para os peões.
  Quando acordei, sentia-me nervosa, ou talvez ansiosa para começar o meu dia. Tenho a impressão que até sonhei com isso hoje, decidi ligar à Pamela, ela era mais velha e já trabalhava há algum tempo, sabia que me ia ajudar como sempre ajudava, não fosse ela a minha melhor amiga. Peguei no telefone e assim fiz.
-“Estou Pam, ajudas-me? O que devo vestir? Estou farta de olhar para a minha roupa e não consigo decidir o que vou vestir, não quero parecer mal, mas também não quero ir a parecer a dona daquilo…sei lá… ajuda-me please”, já quase não tinha ar por causa da rapidez com que estava a falar.
-“Ei Mel, calma. E bom dia também para ti…”disse ela, um pouco aborrecida pareceu-me, ou preocupada comigo talvez.
-“Desculpa bom dia, mas acho que já estou a entrar em pânico e ainda nem meti os pés lá, sabes como é…”, disse eu quase como um pedido de desculpa.
-“Sabes bem que não precisas de estar assim, vai correr tudo bem, tu és inteligentíssima, e sabes bem tudo o que vais fazer no teu novo trabalho, afinal foi isso que estudaste até hoje”, tentou acalmar-me.
-“Não é disso que eu tenho medo. Queria era que me dissesses o que devo vestir, sei lá, umas calças de ganga com certeza não é o melhor look para o primeiro dia de trabalho”.
-“Olha eu acho que devias optar por uma coisa profissional, vestes uma camisa branca e vestes umas calças clássicas. Ficas perfeita e não precisas de entrar em pânico como estás neste momento”, continuou a tentar acalmar-me.
Ela sem dúvida conseguia sempre acalmar-me, fosse qual fosse a minha emergência.
-“Sabes que eu te adoro não sabes? Vou já preparar-me, quero chegar cedo, pelo menos para me ambientar com o meu novo local de trabalho”, disse eu entusiasmada.
-“Claro que sei, vai arranjar te então miúda, manda-me uma foto depois de terminares, quero ver como vai a minha miúda preferida, beijos adoro-te”, e despediu-se.
Antes de desligarmos eu disse:
-“Não vais mesmo ficar à espera que te mande uma foto pois não?”, dela podia esperar tudo.
-“É claro que sim, e se não mandares não te pago o almoço hoje quando formos almoçar, isto se não encontrares alguém que se interesse por ti e…”, o seu riso denunciava-a. Ela e a minha mãe insistiam que eu tinha que arranjar um namorado, às vezes até já me chateava esta conversa.
-“Sim claro, hoje mesmo vou encontrar a minha alma gémea, vai sonhando”, acho que ela ainda se riu mais da minha resposta.
“-Nunca se sabe, nunca ouviste dizer que o amor pode estar ao virar da esquina?”.
-“Sim, sim, não te preocupes que vou-me certificar que vejo todas as esquinas do prédio quando lá entrar, adeus até logo maluca”.
E assim nos despedimos.
   Após uma meia hora a experimentar roupa, finalmente eu estava pronta. Olhei me ao espelho da minha casa de banho, e confesso que fiquei um pouco espantada. Estava de facto com um ar muito profissional. Fiz o que a Pam me disse, vesti umas calças pretas e uma camisa branca por dentro das calças, depois pintei levemente os olhos com uma sombra, passei um lápis e uma máscara de pestanas. Deixei o meu cabelo solto, ele era liso e não precisava de grande coisa, para minha alegria, era uma das poucas coisas que sempre gostara em mim.
  Como era o primeiro dia decidi ir no meu carro, tinha medo que o trânsito da cidade me fosse atrasar e os transportes público não eram a melhor alternativa, porque não há nada pior do que chegar atrasada ao primeiro dia de trabalho. Felizmente tudo correu bem e eu cheguei cedo, se calhar até cedo demais.
  O estacionamento era enorme, a primeira coisa que me veio à cabeça foi “eu não vou saber onde deixei o carro quando for para ir embora”, já nos parques pequenos era assim, quanto mais num deste tamanho. Tentei memorizar o meu lugar, então memorizei umas bonitas flores que decoravam a berma do passeio que dava acesso ao edifício. E assim fiz.
   O caminho foi razoavelmente fácil, pois eu não costumava andar de saltos, mas tinha que ser, hoje tinha de causar uma boa impressão.
  Quando entrei no edifício fiquei extasiada, era tão moderno, e a decoração tinha de ter sido feita por um profissional, tudo combinava, desde da cor dos sofás da sala de espera até aos jarros que decoravam a receção. Não estava lá ninguém apenas a rececionista, mas era normal, ainda faltava meia hora para as nove.
Fui ter com ela.
-“Bom dia, desculpe incomodar, mas hoje é o meu primeiro diz de trabalho e ainda não sei qual é o piso do meu departamento”, dei o meu melhor sorriso, para tentar esconder o meu nervosismo.
Ela era bastante bonita, os olhos azuis chamavam a atenção de qualquer pessoa.
-“Bom dia, bem-vinda à “Goldenverse”, e bem-vinda também à nossa equipa.”, disse ela sorrindo, “tenho todo o gosto em ajudar, pode-me dizer por favor só qual é o seu nome para eu poder verificar no nosso sistema?”.
-“Claro, desculpe, chamo-me Melissa Adams”, continuei a sorrir.
Ela tinha de facto todo o perfil para estar naquele lugar. Era bonita e simpática, qualquer pessoa se sentiria bem em falar com ela.
-“Dê-me por favor 1 minuto só para procurar o seu nome no nosso sistema”.
Ela procurou lá no computador, que só se sabia da sua existência porque ela estava a escrever no teclado, pois todo o móvel cobria o ecrã, logo era impossível ver o que ela fazia.
-“Obrigada menina Melissa por aguardar, de facto este é o seu primeiro dia de trabalho, e irá para o departamento executivo, fica no 10º andar. Irá trabalhar com a Dra. Samantha Archetti.”, informou-me ela.
  Não sei o porque, mas o nome dela não me cativou muito, fiquei com a impressão que não iríamos ser as melhores amigas.
-“Obrigada menina…”, disse eu num tom inacabado para que ela me dissesse o seu nome.
-“Rachel, sem menina, tenho a certeza que somos quase da mesma idade, e já que vamos trabalhar na mesma empresa não há razão para estarmos com formalismos”, pediu-me Rachel.
Fiquei agradecida por alguém pôr fim ao meu nervosismo, sabia bem ser bem tratada por alguém num sítio onde não conhecemos ninguém, principalmente é sempre bom ter amigos no trabalho.
-“Claro, obrigada por me ajudares, vemo-nos por ai?”, perguntei continuando a nossa primeira conversa.
-“Claro que sim, quanto mais não seja quando saíres às seis. É que trabalhar com os chefes não é propriamente um trabalho que passes muitas vezes pela receção”, disse ela sorrindo.
Aquela frase preocupou-me.
-“Trabalhar com os chefes? Como assim com os chefes? Pensei que o dono era homem não uma mulher.”, disse-lhe eu num tom preocupado.
-“E é um homem, Dr.Vincent Lee, mas a Dra.Samantha é o braço direito dele, e o esquerdo também, tudo passa por ela, entre tu e ele só ela está no meio”.
   Se eu estava preocupada, aquilo caiu como uma bomba na minha consciência. “E agora? Será que vou estar pronta para isto?”, pensei eu para comigo. “Eu nunca fiz nada parecido na minha vida, acabei agora os meus estudos e metem-me logo a trabalhar com os chefes?”, aquilo não podia ser bom.
-“Bem eu não sabia que ia trabalhar com pessoas tão importantes, só espero não desiludir ninguém por me dar este cargo”, tentei justificar-me com ela.
-“Tenho a certeza que não, ela é exigente mas no fundo é boa pessoa, já o Dr. Não é pessoa de grandes falas, é um pouco reservado. Acho mesmo que as nossas maiores conversas foi mesmo só bom dia tudo bem? E pouco mais do que isso”, disse Rachel.
-“Se for só isso comigo, tenho a certeza que não vou ter problemas com ele”, disse tentando parecer calma, o mais que podia.
-“Vai correr tudo bem Melissa, agora se não te importas tenho que acabar umas coisas aqui.”
-“Claro, desculpa, vemo-nos logo então, bom trabalho, muito gosto em conhecer-te”. Disse lhe eu e dirigi-me ao elevador para ir para o piso dos “leões”.
  Mais uma vez, fiquei pasmada. O elevador era grande, cabiam pelo menos umas dez pessoas lá dentro, todo ele era envidraçado, e até o chão refletia a minha imagem. Marquei o 10ºpiso e lá fui para o meu destino. Não entrou ninguém e também não saiu porque eu era a única nele.
   Fiquei a olhar-me no espelho, até que a campainha do elevador tocou. Lá estava eu, no décimo andar, a minha futura segunda casa, porque depois da conversa com Rachel, tinha a certeza que ia passar muitas horas ali dentro.
   Quando lá cheguei vi a figura de um homem, não tinha bem a certeza de quem seria. Ele procurava alguma coisa num monte de papéis em cima de uma das secretárias. Era alto, e pelo que o seu fato deixava mostrar era também entroncado. Não sei porque, mas naquele momento o meu coração disparou.
  -“Realmente preciso de alguém organizado e que não deixe tudo amontoado, isto é inadmissível assim ninguém se entende”, falou ele baixinho, consigo mesmo.
  -“Bom dia”, disse eu um pouco a medo.
   Ele virou-se na minha direção automaticamente. Os seus olhos percorreram me de cima a baixo, e posso dizer que foi o olhar mais incomodativo que já alguma vez senti na vida. Naquele momento senti-me despida só com o seu olhar, mas ao mesmo tempo não conseguia deixar de olhar para ele também. Os seus olhos inquisidores de tom cinzento prenderam o meu olhar. O seu rosto parecia desenhado por algum daqueles pintores que pincelaram a basílica de S. Pedro, era perfeito ao mínimo milímetro. De forma retangular, tudo no seu rosto combinava na perfeição. Fiquei paralisada a segurar a porta.
-“Bom dia, não sei quem é, mas nunca a vi por aqui, está perdida?”, perguntou-me ele. Com uma voz rouca e sedutora.
-“Não sei bem, eu marquei o 10º andar no elevador, mas talvez me tenha perdido por aqui”, disse eu confusa e com a voz trémula.
-“Hum, você deve ser a nova assistente da Samantha”, disse ele num tom ligeiramente divertido.
-“Sim. Penso que sim. Disseram-me isso na receção”, não podia ter respondido de forma mais confusa.
-“Calma, eu sou Vincent Lee, muito prazer”, disse me o homem.
Eu devo ter ficado branca naquele momento, senti que fiquei sem um pingo de sangue no meu corpo. “Vincent Lee? O Vincent Lee que a Rachel me disse que era o dono da Goldenverse? E que a maior conversa que teve com ele foi bom dia tudo bem?”, não sei bem que pergunta me iria sair primeiro. Senti-me tonta e confusa naquele momento.

....

Continua.

Esta é uma história que comecei a escrever ontem. Não é nada autobiografico, apenas imaginação.

Espero que gostem,digam me o que acharam, é muito importante para mim.

Beijinhos a todas.

3 comentários:

  1. A tal história :D eheh logo vi que vinha parar aqui!
    Gostei muito minha madrinha linda ♥
    Estou a seguir-te! *mudei de blog*

    Beijinhoooooo **

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  2. Eu logo vi que a história que falavas no facebook só podia vir parar aqui, eheh :p
    Porque teve que ser minha linda :\ com muita pena minha! foi melhor assim :) tens que me seguir de novo, eheh
    Gostiii bastantee madrinhaa ♥♥
    beijinho grandee *

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  3. eheh, muito obrigada querida :)
    não há melhor que pijamas quentinhos em dias frios ♥♥

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